domingo, 30 de enero de 2022

Palavrões Úteis, libertários e terapêuticos.

(TEOR IMPRÓPRIO PARA MENORES CONTENDO PALAVRAS DE BAIXO CALÃO)
versão em espanhol aqui

"Palavrões Úteis" é um texto que a princípio não tem sua autoria comprovada. Alguns outorgam a Millor Fernandes, um dos grandes da literatura brasileira, mas ele próprio em entrevista negou a autoria dizendo, inclusive, que se fosse dele o faria melhor, e em se tratando de Millor, não há como duvidar.

O fato é que o texto viralizou na internet e, a pedidos ávidos por palavrões em português, resolvi postá-lo, não pelos palavrões em si, mas pelos efeitos "terapêuticos" que eles nos proporcionam no dia a dia.

Segue o texto na íntegra:

"O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha autoestima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Não? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho mesmo? Então foda-se!" O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

”Prá caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade do que "prá caralho"? "Prá caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas prá caralho, o Sol é quente prá caralho, o universo é antigo prá caralho, eu gosto de cerveja prá caralho, entende? 

 No gênero do "prá caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!" que chega para substituir o "não, não e não!" já pouco eficaz e sem nenhuma credibilidade tal como o "não, absolutamente não!". O "Nem fodendo!" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro prá ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Danielzinho, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente às situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PHD porra nenhuma!" ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e mais recentemente o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "puta que pariu!", ou seu correlato "Pu-ta-que-o-pa-riu!!!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua autoestima. Desabotoe a camisa e saia na rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!" (que se pronuncia /fudeu/). E sua derivação mais avassaladora ainda: /Fudeu de vez!/. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? /Fudeu de vez!/.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!!!"
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