viernes, 15 de junio de 2018

Nem tão encantado assim...

Carnaval de 1987. Edimir vivia como muitos brasileiros: dando duro.

Ninguém merece ir todos os dias do Irajá a Copacabana para cuidar do apartamento do Dinorah e do Derly. E o pior é que, hoje, ele vai ter que aturar o plumerio solto daqueles dois se preparando para o baile do Gala Gay, à noite. Ahhh, o baile...

Dinorah, mais fino e recatado, vai de 'Cleo, A Rainha Faraônica'; Derly, mais ousado e, digamos, criativo, vai de 'Viborinha: Cuidado Que Te Pico'. E Edimir ali, no meio disso tudo, vendo como os dois se glorificam, planejam e alardeiam os detalhes do camarote, da festa, do show!

Terminado mais um dia -que mais pareceu um ano, Edimir volta pra casa, triste tadinho... olhinho perdido... sonhando com o Gala... e cantarolando: “...sonhar mais um sonho impossível"...

Chegou arrasado ao subúrbio. Só que quem tem amigos nunca estará sozinho. Marizete, uma bichinha amiguesésima e vizinha voluntariosérrima, sabia do sonho da 'amiga' e vendo o estado em que chegou, correu pra casa do Edimir, e já entrou gritando: “Parô tudo! Se joga, mona”!

Acontece que ela havia pegado emprestado da patroa -sem que a patroa soubesse, claro- um vestido ma-ra-vi-lho-so!! Tubinho mini vermelho-sangue com decotão em V nas costas que chegava até a zona do enrosco. Paetê, muuiiito paetê, óbvio.

O olhinho do Edimir agora brilhava e o pobre pulava e gritava e girava, quase teve um treco.

Acalmados os ânimos, Marizete abriu sua valise e o ajudou a montar-se, afinal, não havia mais tempo a perder. Uma pluma aqui outra ali, muita base, batom e blush... Ressalta isso, esconde aquilo, de postiço só um par de peitos, cílios e peruca alta, loiríssima. Meia arrastão dourada e plataforma vermelho, poderosíssimos. Nascia, então, Polly Naiti, a Diva!

Probleminha de última hora: como chegar???

Marizete de novo! Dez vale-transportes e um dindim para o táxi da Central até o Scala; afinal, não ficava nem bem chegar de ônibus. Mas tinha que voar, senão, chegaria só para o final do baile. E mais um detalhe: Marizete pediu apenas que a amiga cuidasse do vestido e que, pelo amor de Deus, o trouxesse inteiro para poder devolvê-lo. Entrava às nove da manhã e, no máximo às sete, Polly já deveria estar de volta.

E saiu tudo bem! A Diva chega ao Gala e abafa geral. Linda, esplendorosa; se destaca e se diverte muito. Vive cada momento e brilha! Até se deu ao desfrute de dar uma piscada venenosa para uma emburrada Viborinha que via que sua Cleo queria mais era ser picada por um bofe que estava dando mole.

Estava tudo perfeito, até o momento em que se dá conta da hora e, destabacada, sai correndo pelas escadarias em direção ao ponto para pegar o ônibus a tempo. Maior bafão!

No outro dia, Gereba, o dono da birosca da esquina, aparece na sua porta. Traz consigo o enchimento do peito esquerdo que, no desespero e movimento brusco, tinha ficado preso na pulseira do relógio dele.

Assim, como quem não quer nada, Edimir lhe diz: “o que posso fazer pra te agradecer”? Na mesma noite, Gereba chegou de mala e cuia.
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