sábado, 9 de enero de 2021

Propaganda 1 - respirar/comer/reproduzir/propagar (o resto é consequência).

Os começos

Cheguei à conclusão de que a propaganda é inerente ao homem já que, desde sempre, ele tenta influenciar, convencer, persuadir o outro de como é a melhor maneira de atuar frente a determinadas situações.

Influência, convencimento e persuasão são palavras chaves no momento de propagar uma ideia. E o propagar uma ideia é o sentido próprio da propaganda.

Vasculhando o tema na internet, me deparei com um site em que a autora cita as pinturas rupestres como um ato de propaganda. Essa afirmação, que tem um quê de suposição, me fez pensar no assunto. Afinal, o que representam estas pinturas? Segundo a autora, nada mais são do que as atividades cotidianas desses homens que estavam aprendendo a viver em comunidade. Não apenas retratavam tudo o que viam, mas também contavam como caçar, como se defender dos predadores, como plantar, enfim, como viver em grupo.

Essa ideia me fez ir um pouco adiante ou, em termos cronológicos, ir um pouco mais atrás e fazer algumas interpretações.

O que teria passado na criação mesmo do mundo? Seria o paraíso um ato de divina propaganda? Estaria Deus convencendo seus futuros hóspedes “vendendo” a ideia de que é melhor viver aqui do que fora daqui?
          
Condomínio "O Éden"    O Paraíso é aqui!

E a serpente? Que estratégia teria usado para convencer a pobre Eva a comer a malfadada maçã?
Coma, querida, coma!

E Eva? Que recursos usaria para propagar a ideia das vantagens de dar uma mordida na fruta que levou a ela e ao coitado do Adão diretamente aos portões de saída do condomínio fechado?
Ah...Só uma mordidinha, vai...

Tudo isso é ou não é uma bela sucessão de propagandas? Enganosas - como a da serpente - ou não, eram sem dúvida, atos de propaganda.

Com o passar o tempo, o homem desenvolve a capacidade da escrita. A partir de então, achados arqueológicos comprovam que a atividade de propagar com a intenção de comunicar vantagens ou oportunidades dava às relações humanas o enfoque comercial.

Pinturas e escrituras em muros e rochas foram achadas nas ruínas da antiga Arábia. Além de usar os muros como painel, romanos e gregos já usufruíam de panfletos. No Egito, os papiros também foram veículos de propaganda. Em todas essas culturas clássicas (o que me faz acreditar que em outras também), o vender um produto, concreto como um cavalo ou abstrato como o sentimento de nacionalidade, era tão natural quanto respirar. Em toda superfície onde se pudesse escrever, fosse pedra, madeira, algodão, linho, pergaminho etc., o homem deixava marcado o que queria transmitir. A propaganda engatinhava ainda.

Somente no séc. XV com a maquininha do Gutenberg e a melhoria na qualidade do papel, a massificação da propaganda começou a tornar-se realidade.

No séc. XVI, o Papa Clemente VII define propaganda como propagação de princípios e teorias e funda a Congregação de Propaganda para espalhar a fé católica pelo mundo afora. E aí a coisa começou a ficar séria.

Na Inglaterra do séc. XVII já era possível abrir o jornal e fazer a escolha de qual livro ler, qual remédio tomar para uma doença qualquer ou fazer ofertas de serviço e mão de obra. O comércio estava à pleno vapor. Cada vez mais os anúncios tomavam conta das páginas e, no meio deles, muita propaganda enganosa o que fez com que se criassem regulamentos para a veiculação dos produtos. Então, ficou sério de vez.

Daí, se fez necessário estabelecer uma classificação do que seria propaganda e o que viria a ser publicidade.

Embora as duas estejam ligadas, existe um detalhe que as diferenciam:
➤Entende-se por propaganda, o ato de divulgar ideias, conceitos e valores sem fins lucrativos. É o que acontece quando, por exemplo, uma pessoa tenta convencer outra de entrar para uma religião. Ela vai falar sobre as coisas boas que lhe passaram, da felicidade que conquistou etc., etc. e etc. Mas se no meio da conversa for mostrado um panfleto ou coisa parecida com a marca de uma loja de artigos religiosos, a publicidade se caracteriza. Ou ainda as campanhas governamentais contra, por exemplo, a AIDS. A campanha vai dizer que é importante prevenir, vai mostrar como cuidar-se, que não se deve discriminar.... Mas se no meio dela aparecer o nome de uma marca de preservativos, a campanha se transforma em publicidade. 
É interessante notar que a publicidade não existe sem o ato da propaganda; mas a propaganda pode existir sem o ato da publicidade.

E a propaganda chega ao Brasil
Quando o Brasil ainda era Ilha de Vera Cruz, Pero Vaz de Caminha escrevia o que se pode considerar o primeiro ato de propaganda em terras brasileiras. Sua incansável campanha publicitária o tornaria o mais importante marketeiro do produto Brasil. As belezas descritas ao rei de Portugal propagavam as maravilhas das terras descobertas por Cabral.

Atraídos a este mundo novo, os europeus foram vítimas da primeira propaganda enganosa engenhada pelos índios; eles pintavam os papagaios e os vendiam como araras.
Ô Manuel, vai uma ararinha aí?
(ilustração sobre foto "criança pataxó e papagaio" de Edu Lyra http://edulyra.photoshelter.com/)

A propaganda e o comércio sempre fizeram parte da vida dos brasileiros. Os primeiros mascates e tropeiros levavam seus produtos em lombo de mulas ou em barcos, no que poderia se considerar o início do delivery com a diferença de que, no delivery de hoje, o consumidor já sabe o que comprar e, na época desses vendedores-aventureiros-desbravadores-ambulantes, a necessidade do consumidor tinha que ser identificada e atacada com todas as técnicas possíveis para convencê-lo a concretizar a compra. 

O boca a boca era tão eficaz quanto os panfletos colocados nas paredes e postes da Colônia. Movimentos de independência foram propagados dessa maneira. Talvez se houvesse internet naquela época os resultados tivessem sido outros, mas o fato é que todo o Brasil, através de cartazes e “santinhos”, tomava consciência das ideias mineiras e de tantas outras manifestações de independência que vieram depois.

A primeira publicidade oficialmente registrada no Brasil foi impressa no primeiro jornal tupiniquim. Tratava-se da Gazeta do Rio de Janeiro que, em 1808, publicou timidamente o seguinte: 
Não se sabe se Dona Anna Joaquina conseguiu vender sua casa, mas os brasileiros descobriram o filão extraordinário dos anúncios em jornal. Os jornais trouxeram os classificados que, por sua vez, trouxeram as primeiras agências de publicidade.
Jornais e revistas foram os principais veículos de publicidade em massa até que, em 1922, a rádio apareceu em cena. E com ele, novas técnicas para atrair e cativar o público. Os jingles e marchinhas eram as estratégias mais importantes. Através delas, o público memorizava e personificava uma marca.

O que aconteceu com a imprensa escrita em relação à rádio se repetiu com a rádio em relação à TV. Com o surgimento da telinha trazida por Chateaubriand, a vedete agora era outra. Apesar de um início um tanto complicado e que não atraía os anunciantes, a TV passaria a ser fundamental para a propaganda e a publicidade no momento em que começou a fazer parte da família brasileira... 
Mas isso é um capítulo à parte; história para depois.
(imagens disponíveis na internet)
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