lunes, 12 de noviembre de 2018

EXCELENTE TEXTO SOBRE VERBOS DEFECTIVOS

O VERBO DEFECTIVO, ESSE INSUBMISSO
de Eduardo Affonso

"Como pode um verbo ser assim, voluntarioso, a ponto de se recusar a acompanhar o sujeito nesse ou naquele tempo ou modo? Sob que pretexto, com ordem de quem?

Vá lá: 'chover' não precisa mesmo ser conjugado na primeira pessoa – nunca chovi, não chovo e não choverei jamais. Trovoo de vez em quando, relampejo às vezes, mas não a ponto de chover.

Os verbos defectivos são tão poderosos que nem a Princesa Isabel, de canetinha dourada em punho, pôde escrever 'abulo a escravatura'.

Os jornais da época estavam expectantes: 'é grande a torcida para que ela abula também os verbos defectivos'.

Nem uma coisa nem outra. Por falta da forma verbal, restou-lhe declarar extinta a escravidão. Não era a mesma coisa.

Por outro lado, o verbo 'morrer' tinha tudo para ser defectivo – e não é.

Ninguém vive o bastante para dizer 'morri', porque morre antes. Se ainda é capaz de conjugar um verbo, é porque não morreu o suficiente.

E, no entanto, 'morrer' se conjuga até no pretérito mais que perfeito, o mais inútil dos tempos. Deve ter sido lobby espírita, para viabilizar os textos psicografados.

Alguns verbos defectivos até que fazem sentido.

A pessoa que pole (um piso, uma pilastra, uma panela) não pode dizer 'eu pulo' sem que a patroa pense que ela quer passar para outra tarefa, menos pesada - ou dar um salto.

O empresário que vai à falência não pode falar 'eu falo', ou a Polícia Federal vai entender que ele quer fazer delação premiada.

A mulher que pare não pode dizer 'eu paro' sob o risco de o obstetra achar que ela quer parar de parir.

Outros podem banir; eu não, não bano nada.
Tudo pode ruir, menos eu, que não ruo.
Eu construo, mas não demulo.
Eu mio, mas não lato.
Eu brado, mas não bramo.

E há verbos que não são defectivos, mas têm defeitos piores, como andar sempre na companhia do sujeito errado. 'Tergiversar' é um deles - usado apenas por quem não só já tergiversou como não tergiversará em tergiversar de novo.

Defectivo tinha que ser o verbo procrastinar na primeira pessoa do presente do indicativo. Como assim 'eu procrastino'? Quem procrastina de verdade nunca procrastina agora - deixa pra procrastinar depois."
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Vale la pena conferir.

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